ASSINE NOSSA NEWSLETTER

Fique por dentro da programação de eventos e exposições da Arte Plural Galeria. Digite seu email abaixo:

Exposições “Memorabilia” e “Para poder te olhar”.

07/Jul/2015 a 01/08/2015

Cláudia Jacobovitz e Yêda Bezerra de Melo - Curadoria: Maria do Carmo Nino

Evocar a convergência entre Fotografia, Memória e Tempo, parece de imediato nos colocar dentro de um campo exaustivamente abordado e há muito assimilado pelo senso comum. Tempo e memória parecem irmãos siameses, dois lados de uma mesma medalha, e a fotografia neste processo parece ocupar um lugar de real destaque na configuração do mundo como o temos hoje. Não foi o meio fotográfico que, entre outras coisas, redimensionou de maneira irremediável a nossa relação com a ideia de “perda” ?

Tal fato não poderia se deixar apreender diferentemente, pois afinal uma das grandes prerrogativas da fotografia como linguagem em sua trajetória de mais de dezessete décadas entre nós, insiste e problematiza sem cesse justamente sobre o caráter de seu peremptório, foi a despeito de que ela primordialmente ateste sobretudo uma ausência. O peso da natureza indicial desta mídia é a chave para a compreensão do porque, da razão pela qual a proposição da artista tem tanta força e contundência poética.

Nas imagens perfuradas, marcadas por esta experiência avassaladora a elas imposta, vislumbra-se um desejo generoso e otimista de aliança com um passado que foi bruscamente interrompido e que nos afeta a todos, quer tenhamos ou não em nossas trajetórias exemplos similares. Cláudia dignifica a memória de sua família e por extensão confronta a sua própria relação com suas raízes neste ato insensato, como só um artista, este criador dtte harmonias a partir do caos, seria capaz de idealizar e levar a termo.

————

O adensamento espacial tornado possível por estas sutis imagens nos evocam de imediato um universo permeado de intuição e sensibilidade artística, insuflando en passant nas imagens a emoção ressentida pela lembrança de um ente querido e marcante na trajetória de cada um de nós: a sua própria mãe. Duplicações, sobreposições, luzes, cores e sombras delineiam-se em planos contíguos à imagem monocromática de outrora, gerando palimpsestos que evocam sim, o acúmulo do tempo entre captação e a evocação de sua experiência perceptiva deste hiato e as consequências das decisões geradas com apuro e suntuosidade na intervenção sobre a matéria do papel fotográfico.

Acúmulo e fluxo, que entremeados de modo irreversível, reverberam também na percepção do observador, gerando um tempo interno que irrecuperavelmente se fratura na consciência e identificação propiciada a cada um de nós que se vê diante destas imagens. Já que o vestígio de efêmeras grafias de luz é a essência mesmo da linguagem fotográfica, Yêda as faz conviver com uma nova realidade, aquela da imagem em si mesma, fazendo emergir neste encontro sua própria voz interior, através de emoções e desejos. Estas imagens não são apenas as guardiãs da memória pessoal da artista, elas habilmente proporcionam lembranças e interferem nas memórias que nos pertencem em um plano subjetivo e individual.

Este convite de encontro espiritual guarda a integridade da artesania sublimada em arte. Ao fazer entrar em cena certas fraturas do tempo necessariamente envolvidas nos conscientiza a todos que a realidade abraça também a imaginação, a vibração interiorizada presente nos sonhos, na ansiedade, na saudade,
no amor, na arte, enfim.

Mª do Carmo Nino
Curadora, artista plástica